Guia prático para a resolução de conflitos baseado no método socrático

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Apresentação

Busto de Sócrates, filósofo grego, em uma pose pensativa.

O guia didático que apresentamos a seguir é um dos produtos do projeto de pesquisa “Irene: um livro de trabalho baseado na literatura clássica para a resolução de conflitos”. Esse projeto foi desenvolvido por uma equipe interdisciplinar com o objetivo de integrar o ensino da Cátedra de Paz nas instituições de ensino secundário na Colômbia. O projeto Irene utiliza textos clássicos da literatura grega e romana como ferramentas didáticas que promovem a reflexão crítica, o diálogo construtivo e a resolução pacífica de conflitos. Tal guia se concentra em uma adaptação do método socrático para ser aplicada em diversos contextos. A proposta é uma metodologia de debate que não se foca em determinar quem está certo, mas sim na busca de consensos, em um ambiente que fomente o respeito pela diversidade de opiniões e a construção coletiva de soluções.

O objetivo do guia é que os participantes se envolvam em um processo de diálogo que lhes permita lidar com diferentes tipos de conflitos (interpessoais, sociais, políticos) e desenvolver habilidades essenciais para a convivência pacífica, a empatia e o pensamento crítico. O material, originalmente desenhado para o contexto escolar, também é aplicável em uma ampla variedade de ambientes. Professores, facilitadores ou orientadores podem implementá-lo em contextos diversos onde se busque fomentar o diálogo seguindo os princípios dialéticos do método socrático, adaptado para a resolução de conflitos.

O projeto Irene e este guia, em particular, ressaltam a importância das humanidades como um meio valioso para enfrentar temas contemporâneos como a paz, a justiça e a convivência, destacando que sua centralidade no ser humano e na compreensão do seu contexto podem contribuir para a transformação social.

O desenvolvimento deste projeto foi possível graças ao apoio financeiro da Universidad de La Sabana, do King’s College London, da Universidade do Estado do Amazonas e do Arts and Humanities Research Council (AHRC), instituições comprometidas com a promoção da paz e da educação por meio de enfoques transdisciplinares.

Convidamos a utilizar livremente este material impresso ou de forma digital. Também incentivamos sua adaptação de acordo com as necessidades do contexto, caso em que agradecemos citar o projeto: “Irene: um livro de trabalho baseado na literatura clássica para a resolução de conflitos (HUM-13-2024)”. Além disso, adoraríamos receber suas dúvidas, comentários, feedback, bem como evidências audiovisuais de sua implementação, que possamos compartilhar no site e nas redes sociais do projeto. Suas contribuições ajudarão a melhorar o guia, divulgar a adaptação do método socrático e promover um intercâmbio de experiências valiosas. Por favor, enviem suas contribuições através de https://proyectoirene.pages.dev/ ou @irene_paz_col no Facebook, Instagram e Twitter.

Agradecemos sua colaboração para continuar construindo juntos!

A. O que é o método socrático?

O método socrático é um procedimento de diálogo e raciocínio que se baseia na confrontação de ideias opostas através da troca de perguntas e respostas. Na adaptação que apresentamos neste guia, os interlocutores buscam aprofundar-se em um tema, não com a intenção de vencer uma discussão, mas de chegar coletivamente a uma compreensão mais clara e consensual sobre o assunto em debate. Cada pergunta formulada e cada resposta oferecida leva a uma reflexão mais profunda, permitindo que uma conclusão seja construída de forma colaborativa com as contribuições de todos os participantes na discussão.

O método socrático tem sido amplamente utilizado na educação desde a Antiguidade. Ele está presente nos diálogos platônicos, nos quais Platão recria, à sua maneira, as conversas que seu mestre Sócrates manteve com outros personagens para analisar temas filosóficos e políticos. Em vez de transmitir conhecimento de maneira unilateral por meio da exposição do professor, esta adaptação do método socrático busca alcançar consensos através do diálogo. Assim, o professor, o facilitador ou o orientador tem o papel de guiar a formulação de perguntas e auxiliar na validação das respostas.

Um dos pontos fortes do método socrático é que ele fomenta o pensamento crítico. Os participantes são incentivados a questionar suas próprias ideias e também a considerar as perspectivas dos outros. Dessa forma, o processo socrático melhora a capacidade de análise, reflexão e respeito pela diversidade de opiniões, já que cada pessoa pode contribuir a partir de sua própria perspectiva. Essa abordagem também promove a introspecção, pois convida os participantes a examinarem seus próprios pontos de vista e estarem abertos a revisá-los à luz do diálogo coletivo.

Por sua natureza, este método é especialmente valioso para o desenvolvimento de habilidades de resolução de conflitos, pois ensina os participantes não apenas a dialogar e escutar ativamente, mas também a abordar desacordos de maneira construtiva. O processo socrático permite que as diferenças de opinião se transformem em oportunidades para avançar na compreensão mútua, gerando um espaço em que as soluções não são impostas, mas construídas coletivamente. Dessa maneira, os participantes aprendem a negociar e a alcançar consensos com o objetivo de resolver conflitos de maneira pacífica e respeitosa.

B. Quais aprendizados se buscam desenvolver?

A adaptação do método socrático tem como objetivo desenvolver uma série de aprendizados nos participantes, que vão além da simples memorização de conceitos ou da busca de quem está certo. Esses aprendizados são fundamentais para promover o pensamento crítico e a convivência pacífica. A seguir, detalham-se os principais aprendizados que se buscam desenvolver:

  1. Análise e síntese: Os participantes aprendem a analisar e sintetizar informações para alcançar uma melhor compreensão de um tema, o que implica decompor as ideias em suas partes mais simples para examiná-las profundamente e depois integrá-las em uma visão coerente.

  2. Pensamento crítico: Promove-se a capacidade de questionar e avaliar ideias e argumentos, identificando possíveis contradições, preconceitos, falácias ou incoerências. Isso permite que os participantes desenvolvam um julgamento mais refinado e uma melhor capacidade de discernir entre diferentes pontos de vista.

  3. Comunicação assertiva: Os participantes são guiados a expressar seus pensamentos e emoções de forma clara e respeitosa, ao mesmo tempo em que aprendem a ouvir e a valorizar as opiniões dos outros. Graças a isso, não só o diálogo construtivo é fortalecido, mas também promove um ambiente de respeito e compreensão mútua.

  4. Reflexão e autocrítica: O processo socrático convida os participantes a refletirem sobre suas próprias crenças e suposições. Essa introspecção permite que avaliem o alcance e as limitações de suas próprias opiniões, promovendo assim a autocrítica e o crescimento pessoal.

C. Como implementar o método socrático?

Implementar o método socrático em ambientes onde se deseja promover o diálogo construtivo requer seguir uma série de etapas que orientam os participantes por meio de um processo de análise e reflexão. O tempo estimado para a atividade é de uma hora. A seguir, apresenta-se uma metodologia simples para colocar em prática essa abordagem.

  1. Atividade preparatória

    A reflexão inicial e as normas de participação que se expõem a seguir podem ser lidas por turnos entre os participantes. As perguntas que surgirem podem ser respondidas à medida que a discussão avança. Para fomentar a discussão, podem ser colocadas questões adicionais como: “O que é uma opinião?”, “O que é um argumento?”, “O que entendemos por ‘escuta ativa’?”, “Sabemos dialogar de maneira construtiva?”, etc.

    Reflexão inicial: O professor, facilitador ou orientador deve começar com uma reflexão para motivar os participantes a questionarem como interagem com as opiniões dos outros. O seguinte texto pode ser utilizado:

    Em muitas ocasiões, não concordamos com o que dizem nossos familiares, amigos, colegas ou conhecidos. Mas, como temos tanta certeza de que essa pessoa está errada? Alguma vez já perguntamos por que ela pensa dessa forma? Nos demos ao trabalho de analisar seus argumentos com cuidado? São nossas emoções ou nossos raciocínios que nos dizem que essa pessoa está equivocada?

    O método socrático é uma forma de aprender a alcançar consensos por meio do diálogo. Não é uma tarefa fácil, mas se praticarmos a escuta ativa, respeitarmos os outros além de suas opiniões, analisarmos antes de emitir julgamentos com base nas emoções do momento, e nos expressarmos com argumentos bem fundamentados, os resultados podem nos surpreender.

    Fresco 'A Escola de Atenas' mostrando Platão e Aristóteles no centro, cercados por outros filósofos, incluindo Sócrates.

    Acordos de convivência: Para que o diálogo socrático seja eficaz, é fundamental estabelecer uma série de normas de participação que garantam o respeito mútuo e a fluidez da troca de ideias. As normas permitem que todos os participantes se sintam à vontade ao expressar suas opiniões e asseguram que o processo seja construtivo e colaborativo. A seguir, são sugeridas algumas normas básicas que podem ser adaptadas conforme o contexto:

    1. Levantar a mão para intervir: Todos os participantes devem levantar a mão para pedir a palavra antes de falar, o que garante que a ordem seja mantida na discussão e que todas as vozes tenham a oportunidade de ser ouvidas sem interrupções.

    2. Intervenções breves e claras: As intervenções devem ser concisas e bem fundamentadas. Deve-se evitar falar por muito tempo para permitir que outros também tenham a oportunidade de participar. Uma boa intervenção inclui um argumento claro e, se possível, evidências que o sustentem.

    3. Respeito pelas opiniões alheias: É essencial que cada participante ouça ativamente e respeite as opiniões dos outros, mesmo que não concorde com elas. As discordâncias devem ser expressas de forma respeitosa, usando expressões como “na minha opinião, acredito que…” ou “considero que há outra perspectiva…”.

    4. Evitar interrupções: Não se deve interromper quem está falando. Todas as opiniões são importantes. Esperar a vez para falar demonstra respeito pelos outros e por suas ideias.

    5. Uso adequado da linguagem: A linguagem deve ser respeitosa e adequada para o ambiente. Deve-se evitar levantar a voz ou usar insultos, ataques pessoais ou expressões que possam ofender os outros. O objetivo é promover um diálogo construtivo, não uma confrontação.

    6. Focar nos argumentos, não nas pessoas: As discussões devem girar em torno dos argumentos e não na pessoa que os emite. Deve-se evitar personalizar as críticas ou fazer comentários que ataquem os colegas em vez de suas ideias.

    7. Manter uma atitude aberta: Os participantes devem estar dispostos a reconsiderar seus próprios pontos de vista à luz dos argumentos apresentados pelos outros. O método socrático é um processo de análise coletiva, onde todos podem aprender e contribuir para o entendimento mútuo.

  2. Explicação do método socrático

    Busto de Sócrates, o filósofo grego, com uma expressão séria e uma barba proeminente.No guia dos participantes, que está anexado a este documento, inclui-se uma breve biografia de Sócrates e uma explicação simples do método socrático. Recomenda-se que essa parte do guia seja lida por turnos entre os participantes, o que permitirá uma melhor compreensão do método e fomentará a discussão desde o início. Ao ler a história de Sócrates, os participantes poderão fazer perguntas, compreender o propósito do diálogo socrático e como aplicá-lo no processo de reflexão e resolução de conflitos.

  3. Implementação da adaptação do método socrático

    1. Questão inicial

      Uma vez realizada a atividade preparatória e explicado o método socrático, deve-se escolher uma afirmação inicial que fomente o debate, adaptada ao contexto em que o método será implementado. É fundamental que essa afirmação seja cuidadosamente selecionada para promover uma discussão rica e participativa.

      A afirmação deve ser incompleta, ambígua ou levar a uma conclusão errada, o que se denomina ‘falácia’. O propósito dessa escolha é gerar um ponto de partida polarizador, de modo que os participantes, através de suas intervenções, sejam motivados a suavizar, matizar ou questionar a contundência da afirmação. Isso impulsiona os participantes a examinar diferentes perspectivas e trabalhar na busca de consensos à medida que o diálogo se desenvolve.

      Por exemplo, pode-se utilizar uma afirmação como: “Para alcançar a paz, um lado deve ceder aos interesses do outro.” Nesse caso, a formulação da ideia convida os participantes a trazerem outros pontos de vista, a contrastar com experiências pessoais ou a buscar exemplos que questionem ou modifiquem a afirmação inicial, promovendo assim uma discussão dinâmica e reflexiva. A afirmação pode ser proposta pelo professor, facilitador, orientador ou, idealmente, por um dos participantes. Outros exemplos de afirmações provocadoras são:

      • A inteligência é algo inato e não pode ser desenvolvida. A felicidade está relacionada à quantidade de dinheiro que uma pessoa - tem.
      • O sucesso só é possível se você tiver contatos.
      • O gênero determina as capacidades de uma pessoa.
      • A democracia é o único sistema de governo que funciona. A educação formal é a única maneira de alcançar o sucesso - profissional.
      • O perdão beneficia o agressor, não a vítima.
      • As tradições não devem mudar, porque definem nossa identidade.
      • A vingança é uma resposta justa a uma injustiça.
      • O trabalho árduo é o único fator que define o sucesso.
      • As emoções não devem ter lugar em decisões importantes.
      • As leis devem ser acatadas sem questionamento.
      • A ciência sempre está certa porque seus resultados são verificáveis.
      • Os líderes nascem, não se fazem.
      • O fracasso é um sinal claro de que alguém não é suficientemente capaz.
      • Os pobres são pobres porque querem.
      • O respeito deve ser conquistado, não dado gratuitamente.
      • As pessoas que cometem erros graves não merecem segundas chances.
      • A neutralidade é a melhor opção em qualquer conflito.
      • A aparência física reflete nossos valores.
      • Ser homem significa ser forte.
      • Os recursos naturais são inesgotáveis.
      • As pessoas boas são obedientes.
      • As pessoas exigem direitos, mas evitam responsabilidades.
      • A paz mais injusta é melhor que a guerra mais justa.
      • Se quer paz, prepare-se para a guerra.
      • Se todo mundo faz, deve estar certo.
      • As maiorias nunca erram.
      • Se evitar falar sobre o problema, ele desaparecerá por si só.
      Ilustração de um grupo de pessoas sentadas, mostrando diferentes expressões e emoções, com símbolos de perguntas e respostas ao fundo.
    2. Opiniões

      Por turnos, os participantes expressam suas opiniões sobre a afirmação inicial. Elas devem ser registradas de forma concisa no quadro ou em uma tela visível para todos. Se esses recursos não estiverem disponíveis, um ou dois participantes podem ser designados como secretários, anotando as opiniões em um caderno ou em um celular.

    3. Validação e refutação

      Uma vez que todas as opiniões tenham sido expressas, começa o processo de validação e refutação. Cada participante, por turnos, avaliará os pontos fortes e fracos das opiniões anteriores. É essencial que se explique que todas as opiniões têm, pelo menos, uma fraqueza e uma força. Também deve ser explicado que a linguagem utilizada deve ser cuidadosa para evitar ferir os sentimentos dos outros. Pode-se aconselhar os participantes a usarem expressões como:

      Uma mulher pensativa com uma camiseta amarela, fazendo um gesto de dúvida enquanto considera opções.
      • Infelizmente, não posso concordar com sua opinião, porque…
      • Respeitosamente, discordo dessa postura, pois…
      • Encontro alguns problemas com essa ideia, no sentido de que…
      • Considero que há melhores alternativas, como…
      • Compreendo o que você disse, mas me parece que…
    4. Reformulação

      Após a validação e refutação, o grupo deve reformular a afirmação original, integrando as forças dos diferentes pontos de vista. Se não se chegar a um consenso, repetem-se os passos 2 (Opiniões), 3 (Validação e refutação) e 4 (Reformulação). É importante lembrar aos participantes que nem sempre é possível chegar a um acordo imediato e que podem ser necessárias mais sessões para alcançá-lo. Também é importante ressaltar que o valor do exercício reside na reflexão crítica e no processo contínuo de diálogo, pois a troca de opiniões permite avançar na busca de consensos que facilitem uma convivência pacífica, respeitando e valorizando nossas diferenças.

D. Variação

A atividade pode ser dividida em várias sessões, conforme o professor, facilitador ou orientador julgar adequado. Para enriquecer o diálogo, pode ser designada uma leitura prévia ou um vídeo relacionado com o tema, para que os participantes cheguem à discussão com mais contexto e opiniões mais fundamentadas.

Se na primeira sessão não for possível reformular completamente a afirmação inicial, pode-se deixar para a sessão seguinte. Durante esse tempo, os participantes podem se comprometer a investigar mais sobre o tema, o que lhes permitirá refinar seus argumentos e contribuir de maneira mais sólida na etapa seguinte do diálogo. Recomenda-se que as sessões complementares não ultrapassem uma hora.

E. Avaliação

A avaliação da aplicação do método socrático pode ser adaptada às necessidades e objetivos dos participantes. A seguir, apresentam-se várias possibilidades de avaliação:

  1. Escrita reflexiva: Os participantes podem realizar um breve texto refletindo sobre os resultados do diálogo socrático. Podem incluir uma biografia expandida de Sócrates, com resumos dos diálogos platônicos mais importantes e definir conceitos-chave como argumentação, argumento, contra-argumento, falácia, persuasão, escuta ativa, assertividade e respeito.

  2. Avaliação em grupo: Os participantes podem realizar uma avaliação coletiva onde, ao final da atividade, cada pessoa comente quais ideias mudaram ou se fortaleceram ao longo do diálogo. Além disso, pode-se avaliar o processo de consenso: Conseguimos construir uma solução conjunta? Como o processo foi percebido?

  3. Plano de ação: Após o diálogo, os participantes podem criar um plano de ação coletivo que resuma as soluções ou consensos alcançados e como implementá-los em seu contexto particular (comunidade, equipe de trabalho, etc.). O plano permitirá ver como o método socrático pode levar a ações concretas.

  4. Pesquisas de feedback: Os participantes podem preencher uma pesquisa de feedback anônima para avaliar a eficácia do método socrático em melhorar o entendimento mútuo e a resolução de conflitos. Perguntas como: Você se sentiu ouvido(a)? Você mudou sua perspectiva após o diálogo? Como você avaliaria a qualidade do debate? podem ajudar a medir o impacto do processo.

F. Guia para os participantes


Podemos chegar a consensos?

Guia prático de diálogo para a resolução de conflitos baseado no método socrático

  1. Introdução

Busto de Sócrates, o filósofo grego, com uma expressão séria e barba, esculpido em mármore.Apresentamos neste guia uma adaptação do método socrático para a resolução de conflitos. Seu objetivo principal é conscientizar as pessoas sobre a necessidade do diálogo construtivo, da análise crítica e da busca por consensos. O guia também visa motivar as pessoas a criar espaços de troca de ideias, onde os participantes possam questionar suas próprias suposições e as dos outros. O processo dialógico busca construir uma compreensão coletiva que respeite a diversidade de perspectivas e se afaste da imposição de opiniões. Espera-se que os participantes não apenas aprendam a dialogar, mas também a negociar e chegar a consensos, habilidades essenciais para uma convivência harmoniosa. O guia é destinado a qualquer grupo de pessoas interessadas em facilitar o diálogo, podendo ser aplicado em diferentes contextos:

- Na comunidade: permite que as pessoas discutam problemas locais e busquem soluções conjuntas. - No ambiente familiar: ajuda a melhorar a comunicação e a resolver mal-entendidos entre familiares ou amigos. - No ambiente de trabalho: facilita a resolução de conflitos entre colegas de trabalho.

  1. Quem foi Sócrates?

    Sócrates é um dos filósofos mais importantes da história da filosofia ocidental. Ele nasceu em Atenas, na Grécia, no ano 469 a.C., ou seja, há quase 2.500 anos. Embora se saiba pouco sobre sua infância e juventude, acredita-se que seu pai fosse escultor e sua mãe parteira. Sócrates não deixou nenhum livro escrito, portanto, a maior parte do que sabemos sobre ele vem das obras de seus discípulos, especialmente Platão.

    Diferente de muitos filósofos de sua época, Sócrates não focava no estudo da natureza ou do universo, mas nas questões morais e éticas. Ele acreditava que o conhecimento e a sabedoria eram a chave para viver uma vida boa e virtuosa. Sócrates era conhecido por seu estilo de ensino. Em vez de dar respostas diretas aos seus interlocutores, ele fazia perguntas para que eles refletissem e chegassem às suas próprias conclusões.

    Escultura de Sócrates, o filósofo grego, sentado e segurando um livro na mão, com uma expressão concentrada.Sócrates teve muitos discípulos e seguidores, mas também inimigos. Suas ideias e ensinamentos questionavam as realidades de sua época, razão pela qual ele foi condenado à morte por blasfêmia e por corromper a juventude de Atenas. Seus acusadores acreditavam que ele estava introduzindo novos deuses e afastando os jovens da democracia. Sócrates foi forçado a beber uma taça de cicuta, uma bebida venenosa que o levou à morte em 399 a.C. Apesar dessas acusações injustas, a vida e os ensinamentos de Sócrates influenciaram muitos filósofos e pensadores posteriores. Sua visão sobre ética e a importância do conhecimento e da sabedoria continuam sendo relevantes até hoje.

  2. O que é o método socrático?

    O método socrático é um processo de diálogo e raciocínio que se baseia na confrontação de ideias através de perguntas e respostas. Em vez de chegar rapidamente a uma conclusão, o objetivo é aprofundar a análise de um tema por meio da troca de diferentes perspectivas. Esse método promove a escuta ativa, a reflexão crítica e o respeito pelas opiniões alheias. Através desse processo, os participantes questionam suas próprias ideias e as dos outros, o que permite construir consensos e chegar a soluções que integrem a diversidade de opiniões.

  3. Como podemos aplicar o método socrático para a resolução de conflitos?

    Ilustração de três pessoas colaborando: uma mulher com óculos usando um laptop, um homem segurando um tablet e outra mulher apontando para uma lâmpada, simbolizando ideias.Antes de iniciar a discussão, é importante estar preparado para ouvir sem preconceitos. Muitas vezes, não concordamos com as opiniões dos outros, mas como temos tanta certeza de que essa pessoa está errada? Já me preocupei em analisar seus argumentos alguma vez? São minhas emoções ou meu raciocínio que me indicam que ela está errada? O primeiro passo é questionar nossas próprias suposições e nos abrir ao diálogo. O método socrático não se baseia em alguém ganhar ou perder uma discussão, mas sim em enriquecer o entendimento mútuo. Durante a atividade, todos devem respeitar as seguintes normas:

    • Escuta ativa: Preste atenção sem interromper os outros.
    • Intervenções breves e claras: Expresse suas ideias de maneira concisa e respeitosa.
    • Foco nos argumentos: Critique ou apoie ideias, não as pessoas que as expressam.

    Com o apoio do professor, facilitador ou orientador, seguimos os seguintes passos:

    1. Questão inicial: Uma afirmação sobre um tema que queremos analisar é colocada. Por exemplo: “Para alcançar a paz, um lado deve ceder aos interesses do outro.”

    2. Opiniões: Cada participante, por sua vez, expressa brevemente sua opinião sobre a afirmação e a registra em um caderno, agenda, celular ou outro meio disponível.

    3. Validação e refutação: Examinaremos agora os pontos fortes e fracos das afirmações, sempre com o maior respeito.

    4. Reelaboração: Com base nos pontos fortes das afirmações, tentaremos construir uma nova afirmação com a qual todos concordemos.

    5. Se não chegarmos a um consenso, repetiremos os passos b) Opiniões, c) Validação e refutação e d) Reelaboração.

  4. Reflexão final

    Ilustração de três pessoas colaborando: uma mulher com óculos usando um laptop, um homem segurando um tablet e outra mulher apontando para uma lâmpada, simbolizando ideias.É possível que tenhamos que repetir os passos várias vezes, até mesmo em outras sessões, pois há temas que são muito difíceis de tratar. No entanto, o diálogo nos permitirá entender por que é tão difícil e, ao mesmo tempo, reconhecer o valor das opiniões dos outros e as falhas das nossas próprias opiniões. Finalizamos respondendo a estas perguntas: Como você se sentiu durante o processo de discussão? Como descreveria o processo de tentar chegar a um consenso? Achou útil?